Hoje vai ser jogo rápido aqui, já que está todo mundo de férias.
Por mais que eu ame a sabedoria do folclore novo brasileiro, e a frase que mais me fez rir esse ano foi “daqui para frente é só para trás”, vamos botar os pingos nos is: na média, o povo não sabe o que está falando.
Daqui para frente é só para frente mesmo, a versão menos divertida da coisa, mas mais realista. E precisa falar mal do povo justo na época? Precisar não precisa, mas como está todo mundo falando de retrospectiva nessa conveniente semana entre Natal e Ano Novo, eu resolvi que o que passou, passou e não volta mais.
Não sou herege de achar que o passado não importa. Eu moro em uma casa construída em 1915 (a gente estima) e é tombada como patrimônio histórico de Campinas. Além disso, amo máquinas de escrever. Tenho seis delas!]
Também não desprezo meu passado: tudo o que sou hoje é a soma de cada segundo da minha vida.
Mas o meu passado, minha casa e minhas máquinas de escrever ocupam na minha vida o exato espaço que elas merecem — o passado. Não adianta remoer ou se arrepender: o passado não muda. É o que é e permanecerá sendo assim eternamente. O que pode mudar somos nós. Erros e acertos são excelentes ferramentas de aprendizado.
Vale a pena olhar para o passado, mas não vale a pena revivê-lo, por mais que alguns trechinhos tragam aquela saudade apertada. Mas, para isso minha geração tem o Google drive, que preserva toneladas de fotos e vídeos.
(Aliás, uma pausa aqui. Meu drive tem umas fotos de 2001, 2002 em diante. Eu tenho um HD em casa que tem algumas coisas de 1994, mas são poucas fotos; eu não sou exatamente da geração cuja vida está cronicamente online. Só metade dela. Meus anos de adolescência, os mais constrangedores, foram registrados em negativos e fotos impressas, que tem um tempo de sobrevivência menor. Ainda bem!)
Portanto, nada de retrospectiva esse ano. Muita coisa boa aconteceu, mas nada que eu queira reviver ou compartilhar. Mas tem outro fator para eu ficar meio quieto em relação a isso: este substack que vos fala serve para eu falar da minha carreira de escritor e umas certas fofocas. Mas eu nem sempre fui escritor (de profissão; antes eu era escritor só de alma).
E minha carreira de escritor está muito incipiente para eu contar vantagem.
Eu posso fazer a seguinte retrospectiva profissional: me formei publicitário, exerci um pouco, mas passei a maior parte do meu tempo como produtor cultural. Sou um excelente burocrata por isso. Quando larguei dessa vida, me tornei fotógrafo e, agora que as barbas estão ficando brancas, decidi escrever de verdade, dedicado, diariamente, procurando oportunidades de ganhar dinheiro com isso.
Mas na carreira de escritor eu sou iniciante e minhas conquistas até agora não são exatamente grande coisa, aí não vale uma retrospectiva. Vale no máximo uma lembrança. Um salve.
Então, lá vai: salve o escritor que mora dentro de mim.
E fim de papo.
O próximo ano poder trazer coisas incríveis. Mas isso o próximo mês também pode fazer. Ou até a próxima semana, que ainda cabe em 2024. O futuro não obedece nossas convenções sociais aleatórias. Mas o passado também não. Então, bora para o futuro. Um segundo de cada vez.
Bêjo!
Terry Pratchett, escritor inglês, falecido nesta década tem uns 60, 70 livros. Pelo menos 35 são da série Discworld, onde ele usa a fantasia clássica (duendes, gnomos, bárbaros e magos) a favor do humor mais cínico e afiado que já vi. E ainda tem umas doses de política bastante atuais. Absolutamente recomendado!
Goste ou não de Raul Seixas, você precisa ouvir isso aqui: Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10. É uma opera rock (mais ou menos) que ele encabeçada com outros 3 artistas. Esse disco é de 1971, portanto entre Raulzito e Os Panteras (1968) e a carreira solo “oficial” dele, iniciada em 1973 com Krig-ha Bandolo! Um som diferente do maluco beleza.
Esse eu ganhei de Natal e já devorei, A Divina Comédia de Dante (mas sóo inferno) adaptado para quadrinhos por Gaëtan Brizzi e Paul Brizzi. Uma coisa linda que só vendo. Já já vou pegar para ler de novo.
Ah, é! Eu já estava esquecendo! E a tal tatuagem nova? Acabou? Sim, tá aqui:
Mais? Só ao vivo. Vem me ver quando eu estiver vendendo meus livros em alguma feira.
Bêjo de novo.
Muito bom, Fel! Coincidentemente, antes de te ler eu já havia acabado de silenciar as "notificações desse dia" (leia-se: fotos e lembranças) do meu OneNote (sim, eu sou rebelde e uso o concorrente do Google Photos... Hahaha). Mas silenciei as "memórias". Amo e honro tudo o que vivi, mas não estou mais ali. O eterno presente é tudo o que temos, então, sigamos por ele. Beijo de loba (meio águia e na fase da reinvenção)