Já aconteceu com todo mundo de morder mais do que aguenta mastigar. E para estender a metáfora, fica aquela cousa bonita das bochechas estufadas, os olhos lacrimejando, o ar nem entra direito e o maxilar mal se mexe. E a gente fica lá naquele vai-não-vai, sobe e desce devagar e todo mundo na mesa te olhando.
Exceto que a mesa é a internet e não tem ninguém realmente olhando. Você está sozinho(a) na sua mesa de trabalho. E não, não tem gosto de nada, nem calorias sendo ingeridas.
Em comum mesmo com a metáfora, só mesmo a incapacidade de decidir o que fazer.
Pensando bem, que metáfora ruim, né? Não explica nada.
Envolver-se em mais projetos do que cabe nos seus dias e na sua capacidade emocional não tem nada a ver com comida pelo jeito. Por exemplo, uma coisa horrenda de se fazer é cuspir comida mastigada e babada. Cuspir fora um projeto pela metade não tem problema algum.
Em geral, projetos envolvem mais pessoas. Pausar um ou dois ou mais e avisar às pessoas que não vai rolar por um tempo é normal. Pelo menos aqui para mim, não sei como é onde você trabalha. Mas eu gerencio o meu tempo e enquanto eu dependo de uma série de pessoas e mais um monte dependem de mim, estamos todos remando na mesma direção e envolvidos em projetos diversos, portanto, fazer as prioridades de um e de outro se encontrarem é quase um alinhamento de planetas.
(o que talvez não seja uma metáfora adequada também —não faço nem ideia se o alinhamento de planetas é algo raro)
E então, liberdade.
O difícil é a gente ter a saúde mental o suficiente para conseguir entender que não está cabendo no dia e esse projeto precisa descer na lista de prioridades ou se aquele outro projeto que é menos apaixonante está chegando ao fim do prazo e precisa de atenção.
E isso, meus amigos, isso é para as almas evoluídas mesmo. Quando vê, a mesa está cheia de papéis, os e-mails desaparecem na rolagem da tela e o zapzap tem tanta bolinha que parece que está passando pela adolescência. Aí, não sei vocês, mas nesse exato momento a vontade de procrastinar dispara. Os projetos ali todos esperando para andar, mas fora das prioridades que eu queria, me dão uma certa angústia e eu fico mais é pensando em abrir uns sites de notícia, ligar a TV, jogar uns jogos…
Então para, respira, faz um café, alonga e volta para a mesa porque a vida não é um morango (outra metáfora chinfrim; morangos são bonitinhos e tudo mas são azedos). A vida é abacaxi, essa sim uma fruta que bem representa a brasilitudade. É tudo verde e amarelo, é espinhento e casca grossa, mas é grande, dá para dividir e o doce equilibra o azedinho. Com sorte, fica mais doce do que azedo.
E em propósito da brasilidade, aqui a gente é versátil. Tem sempre um jeito. Então, um monte de projetos e atividades que nos sobrecarregam não precisam ser encaradas como uma lista interminável de trabalho. Podem ser encaradas como oportunidades de colaboração. Como oportunidades de remixagem, misturar projetos. E também, é claro, lições de humildades. Trabalhos para o autor independente brasileiro não são passos seguros e retos na mesma direção. Eles podem ser rediscutidos e reformatados. Podem ser trocados, substituídos, aumentados ou diminuídos. Não é para frente. É para um lado, para o outro, para frente, na diagonal.
São dois para lá e dois para cá.
A realização que eu havia me envolvido em diversos projetos caiu semana passada. É história em quadrinhos, fotografia, leis de incentivo, palestras… Ufa! Estou aqui dançando miudinho. Mas é legal estar conversando com as pessoas sobre esses trabalhos, porque alguns aproveitam bem uns dos outros e até dividem alguns elementos.
Quer saber? Tá divertido.
E você? Tá difícil de descascara o abacaxi aí? Me conta!
Larguei mil coisas este começo de ano pq surtei, além das rasteiras da vida. Agora consegui ponderar o que dá pra pegar de volta. É isso. Acho até que fiz uma news sobre isso mês passado.
Fazendo o que dá, mas realmente preciso olhar para os projetos e decidir qual vai primeiro, e qual "racha".
Mas, ei, eu às vezes gosto de um abacaxi azedo. Aliás, entre o azedo e o muito doce, é melhor o azedo mesmo!