Estava nas cartas, eu que não queria ver
Eu agora tenho uma agenda de palestras. Sim!, no plural!!
A gente faz nossos planos cuidadosamente, o universo ri da nossa cara, ruidosamente, tenho aprendido nessa longa estrada da vida. Ser escritor, é, sem esperança alguma, um trabalho solitário, enfurnado meses, às vezes anos, em casa e, de repente, sai um livro para o mundo. E se o livro for uma droga? Bem, os meses foram jogados no lixo, ninguém vai comprar, quem comprar não vai ler.
Quisera eu ser um músico, para poder ir no bar ali na esquina e tocar a minha mais nova composição e observar a reação do público. Vão gostar, ótimo. Não gostaram, próxima música.
Mas escritor pode dar palestras, não é? Pois bem, e sobre o quê? Sobre o meu próximo livro ou meu anterior, talvez? Sim, mas quem é que está interessado em uma coisa antiga dessas? No meu entender, quase ninguém. Eu já fiz lançamentos de livros em bares e em espaços culturais com resultados bem medianos. Não arrisquei ir para o mundo querendo chamar atenção das pessoas para ouvirem eu explicar sobre o meu mais recente delírio. A atenção das pessoas é cara. Pessoas são ocupadas com seus dias e, fazer elas prestarem atenção já é um trampo camelo. Fazerem-nas meia hora ouvir sobre um livro que elas ainda não leram, para quê? Todo mundo pode pesquisar no youtube depois.
Além disso, palestrar tem uma alta concorrência. Já ouviu um TED Talk? São as coisas mais sensacionais: ideias revolucionárias, gente engajada, apresentações envolventes… Só de ouvir o barulhinho de água que antecede cada apresentação eu arrepio.
Mas aí que a vida tem dessas coisas. Ano passado eu realizei uma única unidade de palestra no SESI de Itú, sobre o movimento artístico solarpunk. E foi tão legal! Falei para uma centena de adolescentes que, ao fim da palestra ainda mandaram umas perguntas incríveis! Eu eu só deixei escapar 2 palavrões a palestra toda! (Sim, isso é um recorde pessoal)
Uma palestra no ano não qualifica nem como excessão à regra. É, no máximo, uma sujeirinha estatística.
Mas 2025 já chegou chegando nesse quesito e meus planos de ser um escritor romântico hermitão viciado em láudano em um sótão em Paris foram para o brejo.
Amanhã a tarde, repito o tópico do solarpunk para um outro SESI, em Cosmópolis.
Terça e quinta da semana que vem, estarei falando sobre a escrita de livros e de HQs na Escola Comunitária de Campinas. Serão 5 palestras ao todo.
No finzinho de Abril falarei no SESI Leopoldina (em São Paulo) sobre brasilidade nas histórias de fantasia e logo no começo de Maio volto ao mesmo SESI para uma conversa sobre IA generativa e criatividade.
E assim, sem mais nem menos, eu tenho uma agenda de shows. Pequena e humide, mas é minha e eu a amo muito muito muito porque eu aprendi que o universo vive sacaneando nossos planos de vida, mas nem sempre isso é algo ruim.
Eu estou me divertindo tagarelando sobre meus assuntos preferidos e respondendo perguntas interessadas.
Quem diria?
Para ser bem honesto, eu diria. Eu já sabia. E você também. Essa onda de que a vida e o universo e tudo mais atropelam nossos humildes planos já é história velha. Todo mundo já sabia. Mas tem umas coisas que a gente sabe, sabe que sabe, mas não quer saber. O conhecimento fica lá guardado em um cantinho, intocado pelo raciocínio. Uma preciosidade de burrice.
Aí, algo cutuca aquele cantinho escuro e tudo o que você achava que sabia vira de cabeça para baixo.
O que eu não sabia, ou ao menos, não exercitava, era aceitar que as coisas boas também acontecem aleatoriamente. No porco mundo capitalista, se a gente fica parado coisas ruins acontecem, não é? Se a gente não anda, não se mexe, não ganha dinheiro, não paga as contas, morre de fome. Eu aprendi assim.
Mas mexendo ou não, merecendo ou não, a gente também recebe coisas boas.
Não, não sou eu que vou achar que eu nem merecia essa felicidade toda. Não vou nem entrar no assunto. Posso merecer, pode ter mais gente que mereça. Não vou questionar o caos do nosso mundo.
Estou feliz, me deixa!
Bêjo!
Essas coisas boas que acontecem aleatoriamente tem que ser aproveitadas e comemoradas, sim! E da próxima vez que vier dar palestra em Itu, me chame!
Que Sensacional!!!! Quero saber se bateu o record de palavrões não dito depois que cumprir a agenda KKkKkkk... Excelentes palestras!